Um dia ouvi falar de uma terra, uma terra com neve, uma
terra com calor, uma terra de seca ou talvez só para alguns.
Um dia ouvi falar de uma terra de boas gentes, de gentes que
se conhecem, de gentes que se preocupam com os outros, de gentes com um
espirito de bondade, de gentes rijas.
Um dia ouvi falar que essa terra ficava num canto de Portugal,
uma terra a 500km da capital que se diz Lisboa, e tinha de seu nome Bragança,
então decidi conhecer essa terra.
Infelizmente já não pude fazer esses 300km de comboio pois a
linha ferroviária tinha sido já eliminada uns 10 anos antes, então recorri á
linha rodoviária, com umas belas paisagens pela frente o autocarro seguiu sua
viagem por uma das mais perigosas do nosso país.
Três horas de viagem cheguei ao meu destino com uma imagem
de uma terra esquecida pelos nossos governantes, tal é a sua paisagem,
preparei-me então para o pior.
O meu primeiro contacto com aquelas gentes foi muito
superficial e a minha visita pouco durou, no entanto, quis o destino que essa
terra de boas gentes me acolhesse por algum tempo, e Bragança tornou-se a minha
casa por alguns meses, dois anos ao certo, e desses muitos dias que por ali
passei, posso-vos dizer, não encontram outra terra como Bragança, não encontra
outras gentes como as de Bragança, não encontram melhor clima que o de
Bragança, não encontram melhores sabores do que em Bragança, as poucas coisas
que podem encontrar melhor fora de Bragança são estradas, comboios e aviões
pois estas são as coisas que insistentemente tiram daquela gente.
Bragança é muito mais de uma terra no extremo norte de Portugal,
Bragança tem muito mais para oferecer do que apenas impostos pagos aos nossos
governos, Bragança é terra de castanha, azeite, azeitona, alheira, carne,
cogumelos, cereja e muito mais, no entanto ninguém para os lados de Lisboa se
lembra daquela terra que dá mais ao país do que as contas que são feitas.
Um dia falaram me de uma terra onde haviam muitas pessoas,
uma terra cheia de oportunidades, uma terra de riqueza, uma terra com qualidade
de vida, decidi então que haveria de conhecer essa terra, diziam também que
essa terra se chamava Lisboa e que era a capital de um pequeno país.
Meti-me num comboio e em pouco mais de duas horas estava na
cidade, adorei toda aquela facilidade de movimentos, ora tinha o comboio, ora
tinha o metro, ou autocarros, ou táxis, ou mesmo barcos, era só escolher, mas
infelizmente todo o meu entusiasmo ficou-se por aí, Lisboa é apenas uma cidade
de transportes, não tem muito mais a oferecer a uma pessoa como eu, Lisboa é
apenas uma cidade cinzenta, cheia de multidões, cheia de confusões e nada mais.
Vivemos num país pequeno onde tudo parece tão fácil, num
país onde as distâncias deveriam ser pequenas, mas não aquelas que
verdadeiramente interessam.
Auto-estradas Lisboa-Porto são duas e meia, graças a esta
crise a terceira ficou encalhada mas ainda deu para encher o bolso de alguns.
Comboios Lisboa-Porto são 4, Urbanos, Intercidades,
Internacional e Alfa Pendular, graças a esta crise uma quinta linha (TGV) ficou
na gaveta, mas ainda fez fortuna para alguns.
Aeroportos em Portugal são 3 principais, Lisboa, Porto e
Faro, mas temos um em Beja que só abre meia dúzia de dias por anos.
Grandes acessibilidades para um país tão pequeno, pelo menos
nas ligações Lisboa-Porto, e eu pergunto-me, mas o que se passa com este país?!
Portugal não é só Lisboa e Porto, há muito mais além destas duas cidades.
Quando se pensa em poupar cortamos sempre nos mesmos, mas ninguém
faz as contas como deveria, aquelas terras que têm muito mais para oferecer são
aquelas mais esquecidas.
Bragança meus amigos, é mais do que uma terra que delimita
Portugal, Bragança merece muito mais do que aquilo que tem sido feito, e os
nossos governantes deveriam ter vergonha de voltar a lá pôr os pés.
Em Bragança não precisamos de políticos, não precisamos de
mentiras nem corrupção, em Bragança as pessoas têm qualidade de vida mesmo sem
as ajudas do governo, tudo porque em Bragança há muito mais do que ambição.